A essência do pensamento filosófico



Às vezes quando ouvimos um intelectual falando sentimos que somos verdadeiros paquidermes. Aos paquidermes que não sabem nem mesmo o significado do que seja ser intelectual deixo aqui uma definição simples, de paquiderme para paquiderme.

O intelectual é aquele sujeito que leu muito mais que a média das pessoas normais (ou paquidermes) e por isso sabe coisas que nós, paquidermes, precisamos consultar numa enciclopédia. E, porque sabe mais, acredita que tem o gosto mais apurado e a mente mais aberta que os outros humanos. Só não tem a alma mais pura e elevada que a nossa porque intelectual que se preza é ateu ou agnóstico e, em qualquer das duas hipóteses, não acredita na existência da alma. Nem acredita em espírito, destino, carma, essas coisas de paquiderme. Por incrível que pareça, quanto mais intelectualizado o sujeito, menos ele confia nas coisas e nas pessoas. Ser intelectual é duvidar da existência do próprio pâncreas. Em resumo, intelectual é o sujeito que discorda.

Pensando em minha espécie ‘paquidérmica’ — não corrija os termos que uso: você corre o risco de estar virando um intelectual! —, resolvi escrever uma série de textos curtos que resumem, em poucas palavras, o pensamento de alguns dos grandes pensadores da história mundial. O primeiro da série vai agora mesmo e apresenta as idéias de alguns filósofos.

PLATÃO (428-347? aC)

Era um filósofo de Atenas. Não, ele não era inseto. Eu disse Atenas, não antenas. Ele era grego, pronto. Viveu cinco séculos antes de Cristo. O que não significa que ele tinha quinhentos anos de idade quando morreu! Nem foi assassinado por Cristo, meu Deus! Não foi isso que eu disse! Eu quis dizer que ele nasceu mais ou menos em meados do século quinto A.C., em Atenas.

Platão escreveu uma série de diálogos nos quais dava a palavra a Sócrates, de quem fora discípulo. Não, não havia futebol nessa época. Este Sócrates é outro.
Platão também desenvolveu um método para convencer as pessoas das coisas em que acreditava chamado Dialética. Segundo esse método, você tem que ser chato, discutir tudo e ser sempre do contra para chegar na verdade. Através da oposição e da conciliação de contradições lógicas ou históricas pode-se descobrir a verdade, pensava o filósofo.

Aí mataram Sócrates, aquele que lhe serviu de inspiração, e Platão resolveu baixar a bola e viajar pelo mundo. Lógico que não visitou o Brasil! O Brasil não existia naquela época.

Mesmo desiludido, o filósofo não abandonou a dialética. Não, ele não engordou depois disso! Isso não tem nada a ver com baixas calorias. É Dialética, não dietética. Deixa pra lá, vai...

SÓCRATES (469-399 aC)

Já falei que não é o ex-jogador de futebol! Ele é mais velho que o Platão e nem escritor ele era! Era filósofo. Só se sabe das coisas que pensava porque Platão, aquele, citou várias vezes seu mestre em seus diálogos e comédias.

Aliás quem ensinou Platão a usar a Dialética foi justamente o Sócrates. Ensinou mais ou menos, porque não gostava de nenhum ensinamento dogmático, como outros filósofos costumavam fazer. O que ele fazia era forçar o aluno a descobrir as coisas sozinho. Como? Sócrates fazia tantas perguntas, deixava o pupilo tão em dúvida sobre tudo, tão maluco, que ou o cara se matava, ou aprendia por conta própria e parava de perguntar as coisas para ele. Acho que ele mesmo não sabia de nada. Mas para não dar o braço a torcer e admitir a própria ignorância, Sócrates fingia que era um método não-dogmático de ensinar filosofia e deixava os discípulos esclarecerem sozinhos suas questões.

Resumindo, foi o primeiro professor ranzinza que deu certo... É claro que eu tenho certeza que ele nunca jogou no Coríntians...

DESCARTES (1596-1650)

René Descartes, cuja influência na filosofia moderna e na ciência é incomensurável, estava na Suécia ensinando filosofia à Rainha Christina (1626-89) quando contraiu pneumonia e morreu. Claro que ele não ficou famoso apenas porque morreu, nem por ter sido professor de uma rainha. Só resolvi contar isso logo de cara para mostrar que filósofo também é gente e, como tal, morre.

Descartes era excelente matemático, tanto que inventou o conceito de potências, a geometria atual e um sistema de coordenadas amplamente utilizados na física e na matemática.

Como filósofo, no entanto, era meio pentelho. Não acreditava em nada que não fosse devidamente certo e indubitável. Daí, começou a questionar as coisas até descobrir evidências que comprovassem a veracidade daquilo que ele punha em dúvida. O problema é que ele questionava coisas extremamente banais. Por exemplo: como saber se estou ou não sonhando? Onde estou? Quem sou eu? Quem matou Odete Hoitmann? Sua máxima era dizer: “penso, logo existo”.

Alguns pesquisadores acreditam que se Descartes não tivesse morrido de pneumonia, a própria Rainha Cristina teria matado o infeliz.

DIDEROT (1713-1784)

Filósofo, autor e crítico francês, Denis Diderot tornou-se notório por ser o editor chefe da Enciclopédie francesa. Também ficou conhecido pelos homens de seu tempo por ter escrito alguns ensaios clandestinos, cujo conteúdo impregnado de ateísmo levou-o à prisão por alguns meses. Naquela época, misturar palhaçada e religião além de não vender CD ainda dava cadeia. Outros tempos, outros tempos...

Escreveu novelas e sátiras, com muito humor, que só foram considerados bons após sua morte. Já naquela época algumas pessoas ficavam famosas somente porque morriam.
Seu apelido entre os amigos era Le Philosophe, que apesar de parecer coisa de boiola, quer apenas dizer ‘o filósofo’. Provavelmente, seus amigos eram todos metidos a intelecuais também. Senão, por que colocariam um apelido desses, ‘o filósofo’, em vez de alguma coisa mais prosaica e menos arrogante, como ‘Didi do gogó’, ‘Denis, o pimentinha’, ou qualquer outra coisa desse tipo?
Além do francês, sua língua materna, escrevia em grego, latim, italiano e inglês, com igual competência.

Paradoxalmente, suas composições mais apreciadas nos dias de hoje são suas correspondências — em torno de mil cartas — com Sophie Volland, sua provável amante. O que prova que, já naquela época, o público só pensava em sacanagem.

NIETZSCHE (1844-1900)

Friedrich Nietzsche era uma das figuras de maior influência no pensamento filosófico alemão. Não por que fosse o único filósofo na época, tampouco o único alemão. Acho que é porque as pessoas acreditam que alguém com coragem suficiente para usar um bigode daquele tamanho seguramente tinha muita convicção de que suas idéias o salvariam do escárnio público.

Seu primeiro livro era uma espécie de mitologia pagã, em que se apresentavam dois elementos distintos da natureza humana: o Apoloniano (racional) e o Dionisíaco (passional). Misturando-se esses dois elementos a humanidade atingiria um estágio de harmonia com os deuses. Ou seja: quer pensar, pense. Mas não deixe de cair na “gandáia” por causa disso...

Seu principal trabalho, no entanto, foi Assim falou Zarathustra, no qual o escritor critica o Cristianismo e Democracia, de uma vez só, chamando-os de moralidades da plebe medíocre. Argumentando em favor da aristocracia natural do “super-homem”. Não, ele não usava capa vermelha. Aquele é outro Super-Homem. Aliás, esse negócio de chamar homem de “super” nunca me cheirou muito bem...

Este tal “super-homem” do Nietzsche era movido por um “desejo do poder”, ainda existente no mundo materialista, e atribuia a vida na terra a uma graça divina. Aliás, achar as coisas “divinas” também parece coisa de baitola...

Quem?! Que Lois Lane? Eu já não disse que esse “super-homem” do cara não é o Clark Kent !!!...

2 comments:

  1. eu heim? vai que eu comento e você não tomou seu gardenal diário...

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  2. Qual a essência do conhecimento filosófico ?

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