Namoro VII: separação e reconciliação



— É melhor a gente terminar tudo.

— É, também acho.

— Foi bom enquanto durou mas acabou. Tudo que é bom dura pouco.

— Tem coisa que é boa e dura mais.

— Como o quê?

— Copa do mundo, Olimpíadas...

— Uma copa dura o quê? Um mês?

— Nós só estamos juntos há três semanas!

— É mas foram três semanas intensas.

— Durante a copa, às vezes, tem três jogos num só dia...

— Só que na copa os times nunca abandonam o campo no meio do jogo, na melhor hora...

— Não abandonam porque não são obrigados a enfrentar cara feia do adversário. Se bem que o Makanaki suado não é exatamente uma visão agradável.

— Nós temos que dividir as coisas.

— Que coisas?

— Os CD’s, os móveis...

— Que móveis? Só temos uma cama. E de solteiro.

— Tá bom. Nós dividimos os CD’s.

— Eu fico com os da Marisa Monte, do Jamiroquai e do Egberto. O resto é teu.

— Ah, gracinha! Por que não leva tudo de uma vez? Não quer mais nada?

— Posso levar o Paris, do Supertramp?

— Não. O Paris fica. E o Barulhinho Bom também. Eu que comprei. Leva os do Gismonti. Pode levar todos. Eu nunca suportei mesmo esse cara...

— Porque você não entende nada de música!! Você só ouve o que toca no rádio!

— Não tenho culpa que o Egberto Gismonti não toca no rádio!

— Como não? Como não? Só eu já ouvi três vezes!

— Ótimo. Então leva o Gismonti com aquela touquinha de limão e tudo. Mas o Supertramp e a Marisa ficam.

— A Marisa vai, quase toda. Só fica o Barulhinho. Os outros da Marisa eu que trouxe quando vim pra cá. Só não comprei o último porque você se adiantou e comprou primeiro. Como tudo que a gente tinha era nosso, eu não comprei o Barulhinho também.

— É. A gente ouvia na cama, juntinho, enquanto transava. Depois dormia. Quando eu tinha insônia você punha o Gismonti.

— Aí você dormia e eu ficava acordado, curtindo a música. Mas pelo menos você dormia. Se estivesse bom pra você, pra mim também tava. Além do mais, só quando você tinha insônia é que eu podia ouvir o Gismonti.

— De vez em quando eu punha pra você ouvir, quando você estava cansado. Eu não gosto, mas você gosta, então tudo bem.

— Se você quiser eu deixo o Mais também. Você gosta tanto.

— Não, imagina. O Mais é seu. Separa tudo e deixa num canto que amanhã, quando você for embora...

— Amanhã?

— É, amanhã. Hoje já é tarde, está frio lá fora. Não quero que você pegue um resfriado.

— Aí a gente pode dormir juntinho, como sempre. Quer dizer, pela última vez.

— Isso se eu conseguir dormir com você do meu lado...

— Se você não pegar no sono eu ponho o Gismonti.

— Não. Pensando bem, eu não tô a fim de dormir mesmo.

— Nem eu. Posso por o Barulhinho Bom, então?

— Não, põe o Paris. Apaga a luz, deita aqui e deixa que o “barulhinho bom” eu mesma faço...

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