Namoro V: a primeira vez



Ele tem catorze. Ela, dezesseis. Ele gosta de trash-metal e esportes radicais. Ela curte Caetano, Chico César e pratica xadrez. O pior aluno e a melhor aluna da classe estavam ali no quarto dela por um só motivo. Entre os dois, apesar do abismo cultural e etário — na adolescência, dois anos representam quase uma mudança de geração — havia uma coisa em comum: a virgindade. Por pouco tempo. Naquela tarde em que os pais da menina estavam na França e a casa vazia, o casal de namorados iria desvendar o grande mistério da vida: o sexo.

— Alguém te seguiu?

— Não. Sem chance.

— Você tem certeza que ninguém te viu no caminho?

— Claro que tenho. Minha “magrela” tem retrovisor. É animal!

— Sua o quê?

— “Magrela”, bike. É o mesmo que “becicleta”.

— Você quer dizer bi-cicleta.

— Que seja. Por isso mesmo é que eu chamo de “magrela”.

— Onde você deixou a “magrela”?

— Na cozinha. Animal!

— Ótimo. Não quero que ninguém desconfie que nós vamos transar.

— Por que não?

— Porque se minha mãe souber ela me mata!

— Mas como ela iria ver a gente? Ela está na França!

— Minha mãe e a vizinha têm algum tipo de onipresença diabólica: o que a vizinha vê, minha mãe vê. O que uma sabe, a outra também sabe. E vice-versa. Se a vizinha visse a bicicleta na porta de casa, desconfiaria da presença de um visitante e minha mãe me mataria.

— Animal!

— Você trouxe?

— Trouxe o quê?

— A camisinha, animal!

— Ah, trouxe! Comprei nessa farmácia aqui do lado!

— Você é louco! Meu tio vive no boteco em frente à farmácia! E se ele te viu?

— Relaxa. Não tinha ninguém no boteco e eu tava de bigode. Animal, hein?

— Bigode!!! Você que é um animal! Um moleque de bicicleta, bermuda, camiseta e boné usando bigode! Quem vai cair nessa?

— O cara da farmácia caiu. Pensou que eu fosse meu pai. Me deu até um desconto.

— Tudo bem. Você tá pronto?

— Quase.

— Por que quase?

— Tenho que por a camisinha. Mas eu nunca pus.

— É fácil: espera ficar duro, desenrola um pouquinho, aperta na ponta, encosta no pinto, desenrola até o fim. Nessa ordem.

— Duro já está.

— Já? Tem certeza?

— Tenho. Comigo é pá-pum. Por quê?

— Não, nada. Se isso é tudo...

— E agora?

— Desenrola um pouquinho. Só um pouquinho!

— Assim?

— Isso. Aperta na ponta...não do pinto. Aperta na ponta da camisinha!

— Ah, tá!

— Agora desenrola.

— E aí, já deu?

— Claro que não. É a minha primeira vez também.

— Tô falando da camisinha. Já deu?

— Já. Acho que sim. Agora é com você.

— Beleza! Lá vai.

E lá foi. Durou uns cinco minutos, tamanho o nervosismo do menino. Ele estava feliz da vida. Foi perfeito. Nem tanto pelo desempenho mas por ter-se livrado da barreira da primeira vez. Ela, apesar da dor, também estava feliz, sobretudo porque ninguém da vizinhança descobriu o encontro secreto dos dois.

Na volta da França, a mãe pediu um relatório completo para a vizinha. Nada constava sobre a visita do namorado, o que tranqüilizava a mãe. A única coisa que não ficou bem explicada foi o bigode postiço caído no chão da cozinha...

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